Ela

          Ela estava ali, olhando para o espelho e tentando se reconhecer. Sim, era a mesma face, mas definitivamente não era a mesma mulher.
       Quando machucamos a pele, a ponto de cortar, fica uma cicatriz mudando a aparência daquele local.

      Quando machucamos o coração, as cicatrizes ficam na alma.
       Ela agora está começando a se reconhecer, pois está se olhando nos olhos. Onde foi parar aquele brilho, aquele viço? Perdeu-se nas preocupações, nos problemas, nas desilusões.

       Ela agora estava tremendo por dentro, mas dura por fora. Alguns sinais de sol, da idade, da falta de amor próprio. Quem realmente era aquela mulher refletida no espelho? Feliz, realizada, amada ou....decepcionada, frustrada e abandonada? Um misto de cada adjetivo seria o correto, mas o que mais aparentava era o abandono: dela para ela mesma. Ela se pergunta enfim: "Para que me preocupei tanto?" "Para que sofri tanto?" "Por que me entreguei tanto para o amor quanto para a dor?"


         Nisso, ela começou a suar de nervoso, e percebeu como o dia estava quente. E ela era assim, como o verão: intensa no calor, inesperada nas lágrimas. Chorou, mas era um choro duro, onde lágrimas escorriam, mas a face não transmitia nenhum sentimento.

            Teria seu coração endurecido? Teria perdido a fé no amor?  Ela queria talvez ver somente como eram suas lágrimas, como escorriam e se demoravam muito para secar.


          Ela mesma as secou. 


        Mesmo maculados pelas lágrimas, os olhos eram os mesmos, apenas estavam com a cortina de tristeza que teimava em ficar. Em outros tempos ela entraria em desespero, hoje ela somente observa, fria e dura de seu pedestal. Sim, realmente era outra mulher. Nem melhor ou pior. Apenas outra. Ela era aquela pele que se feriu, formou cicatriz e mudou sua aparência.


           Ela tinha medo de se encarar, mas estava fazendo bem a ela ter esse conhecimento de si, saber com quem ela estava lidando. Afinal, lidar consigo mesmo é muito mais difícil do que lidar com outros.

            Ela estava triste por fora, sangrando por dentro, mas lá no fundo de seu olhar havia um ponto de luz...e aquele ponto também era ela, já liberta de si e totalmente livre de seus pensamentos, focada em apenas ser aquela mulher, sem maiores questionamentos.

           Ela tinha um longo caminho....

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